Parada no ponto começo, então, a refletir. Enquanto ele não chega, penso na inconstância da vida. Olho as pessoas ao meu redor. Todas tão diferentes de mim na aparência e profundamente iguais a mim, no sentimento.
Tem um clima de fim do mundo no ar, populando o imaginário das pessoas. Principalmente dos que moram nos grandes centros urbanos, nas cidades do interior ou nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Em todos os lugares, o perigo mora ao lado. São crimes hediondos, assaltos, assassinatos e muitas outras formas de violência.
Enquanto o ônibus não vem, percebo no olhar de alguns que passam uma esperança vazia de que um dia, algo vai melhorar.
Reflito mais uma vez: será que chegarei em casa?
As notícias encharcam os jornais de sangue: “Bandidos ateiam fogo em ônibus, mais de 50 pessoas queimadas”. O medo da incerteza cresce.
Atrasado, ele chega. Subo as escadas, dou uma olhada geral, para decidir se fico ou se saio e pego outro. Todos me parecem do bem, decido ficar.
Durante o trajeto, perco a conta de quantos homens, mulheres e famílias, se alojam e dormem na rua. Em meio à sujeira, a poluição e sob o sol a pino; estão todos despidos de dignidade. O que pensam? Sobrevivem, mas não sei e não entendo como. Bem ao lado, compondo a paisagem, prédios altos e luxuosos. Homens engravatados, carros importados e saltos altos. Contrastes alarmantes, exagerados... Alguém os percebe?
Indignada!? Sim, mas sentindo-me impotente. Em busca de fazer algo, e sem saber o que ou como. Quando vamos parar?
No dia seguinte, a manchete nos jornais: “Mais um crime estarrece a sociedade”. Franceses são assassinados brutalmente, em um apartamento de classe média, por seus funcionários – ex (atuais) delinqüentes. Eram os responsáveis por uma ONG. Os franceses haviam enxergado como e o que fazer para tentar diminuir as distâncias; trabalhando para retirar das ruas os “meninos de rua”. Me dou conta de que cada vez mais cedo, eles cometem crimes. Têm 19,20,25 anos.
Mais um dia à espera do ônibus e com a mesma atitude, olho nos olhos de quem passa. Nada mudou. São os mesmos olhos, famintos de esperança, de que dias melhores seriam muito bem-vindos.
Dia vai, dia vem... Famílias são mutiladas e nada é feito. Tenho a desconfiança que a sociedade continua com os mesmos sentimentos de arrogância e indiferença. Seria a indiferença, uma forma de autodefesa?
Cada um de nós, com pensamentos egoístas, decidindo o que fazer para sobreviver; igualzinho àqueles que vivem nas ruas? Paredes, muros e condomínios já não protegem ninguém de nada. Estamos todos vulneráveis e expostos às mazelas de uma humanidade que cresceu esquecendo-se de quem está ao lado. Multiplicou-se sobre os pilares da máxima “É cada um por si e Deus por todos”. Se não é comigo, o que tenho a ver com isso?
A violência invade nossas casas nas telas da TV. Ela está nos cinemas, com bilheterias recordes. Nas brincadeiras de criança, com revólveres de plástico, e, muitas vezes, no seio da nossa família. Infelizmente, ela está dentro de nós, quando, por exemplo, soltamos um palavrão no trânsito. Introjetada em nossas vidas ela precisa ser banida e no lugar dela colocado amor, por que só o amor constrói.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
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